terça-feira, 4 de setembro de 2007

Nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos, afirma Bird

REPORTAGEM DA FOLHA ONLINE:

SÉRGIO DÁVILAda Folha de S.Paulo, em Washington

O nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos, segundo relatório anual de governança produzido pelo Banco Mundial (Bird) e divulgado ontem. De acordo com o levantamento, o país está em nível inferior ao que se encontrava quando a entidade multinacional começou a fazer esse estudo, em 1996.
As melhoras observadas entre 1998 e 2000 (segundo mandato de FHC) e 2002 e 2003 (eleição e primeiro ano de mandato de Lula) foram anuladas pelos resultados dos últimos três anos. O estudo é feito pelo Instituto do Banco Mundial, ligado ao Bird, e classifica 212 países e territórios de acordo com o desempenho em seis itens.
Para tanto, leva em conta dados fornecidos por 33 fontes internacionais. No caso brasileiro, foram 18 as entidades ouvidas para a classificação do país, entre elas o centro de estudos de opinião chileno Latinobarómetro, a consultoria britânica Economist Intelligence Unit e o instituto de pesquisas norte-americano Gallup.
Das seis categorias --controle de corrupção; capacidade de ser ouvido e prestação de contas; eficiência administrativa; qualidade regulatória; estado de direito; e estabilidade política e ausência de violência--, o Brasil só melhorou na última no período 2005-2006, em comparação com o período anterior.
"Nos últimos anos, o Brasil parece ter experimentado alguma deterioração em várias dimensões de governança", escreveu à Folha, por e-mail, Daniel Kaufmann, um dos autores do relatório. O controle de corrupção é definido pelo Bird como "a medida da extensão com que o poder público é exercido para ganhos privados, incluindo tanto pequenas quanto grandes formas de corrupção, assim como o 'seqüestro' do Estado por elites e interesses privados".
Reação negativa
A divulgação do relatório causou uma grita entre os países mal-avaliados, muito por conta do recente escândalo que envolveu a própria instituição responsável pelo estudo. No mês passado, o então presidente do Bird, Paul Wolfowitz, pediu demissão por ter protegido durante sua gestão uma namorada também funcionária do banco.
Ex-número 2 do Pentágono durante o governo Bush, Wolfowitz é um dos arquitetos da Guerra do Iraque e fez do combate à corrupção sua bandeira à frente do Bird, que empresta US$ 23 bilhões por ano. "Não estamos querendo ganhar um concurso de popularidade", disse Kaufmann ao jornal econômico "Financial Times".
Kaufmann foi um dos funcionários graduados do Bird a assinar uma carta durante o Escândalo Wolfowitz dizendo que a crise colocava em jogo a credibilidade do banco. No relatório de ontem, ele e os outros dois autores, Aart Kraay e Massimo Mastruzzi, tomam precauções extras para relativizar os achados.
Os resultados não são levados em conta pelo banco na hora de liberar ou não um empréstimo para um país, diz o texto, e os números "refletem uma compilação estatística" feita em diversas instituições e "de maneira alguma refletem a posição oficial do Banco Mundial, de seus diretores executivos ou dos países que [o Bird] representa."
Feitas as ressalvas, Kaufmann acredita que a corrupção ainda é um dos principais problemas enfrentados pelos países: "O custo da corrupção mundial é estimado em US$ 1 trilhão por ano, e o ônus da prática recai de maneira desproporcional sobre o bilhão de pessoas que vivem em extrema pobreza".

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